Na tarde de sexta-feira (29), dando continuidade ao ciclo de palestras do III Congresso Estadual do SindJustiça Ceará, o professor e sociólogo Jessé de Sousa analisou a conjuntura política brasileira com base em seu novo livro, “O Pobre de Direita: A Vingança dos Bastardos”.

Jessé levantou a inquietação sobre os motivos que levaram os pobres a deixarem de votar na esquerda e a apoiarem a extrema-direita.

Segundo o professor, a divisão internacional do trabalho estabelece que Estados Unidos e seus aliados se destacam na produção de bens industrializados, enquanto países como Brasil, os da Ásia, África e América Latina se concentram em produtos primários. Dessa forma, mudanças no desenvolvimento de países como o Brasil não interessam às grandes potências.

Para Jessé, a hegemonia dos EUA substituiu a dominação bélica por uma dominação cultural, promovida pela desvalorização da identidade nacional, o que facilita a entrega do patrimônio público. Ele mencionou a Operação Lava Jato e os ataques à Petrobras como exemplos de mecanismos para manter esses interesses externos.

O sociólogo também destacou como a elite brasileira utiliza o racismo para realizar uma transferência de renda dos mais pobres para si. Após a abolição da escravatura, os meios de produção permaneceram nas mãos de uma elite muito restrita, enquanto o capital cultural foi apropriado pela classe média.

Jessé lembrou que Getúlio Vargas promoveu a industrialização e modernização do Brasil, fortalecendo a identidade nacional. No entanto, em 1932, ao tentarem destituí-lo, a elite brasileira passou a disputar a narrativa de que a corrupção era o principal problema do país.

Ele explicou que essa ideia de corrupção como origem dos problemas nacionais mascara a realidade de um Brasil onde 80% da população é pobre, mas que ainda assim figura entre as maiores economias do mundo.

Como solução, Jessé defendeu a organização popular por meio de sindicatos e outras entidades como forma de enfrentar esse discurso e transformar a realidade.

Grupos de discussão: Após a palestra, os servidores foram divididos em oito grupos, que discutiram e elaboraram propostas para serem incluídas nas teses inscritas no congresso.